viagem rápida pelos meus pensamentos

Cecilia Young
3 min readApr 5, 2021

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Descobri recentemente que não sei me comportar mais em sociedade. Desde o início do isolamento social, tenho pensado em diversos grupos de amigos e perguntado: “será que eles conversam entre si e eu sou a única louca que não tem conseguido?”. Antes, a resposta que parecia óbvia na minha cabecinha delirante é que estava todo mundo sozinho living la vida loca. Desde então recebi a resposta que não, essa não é a situação dos meus conhecidos. Só eu mesma tenho que ser forçada a ter um convívio diário com seres humanos para manter algum tipo de contato com eles.

Contando aqui no dedo, só chego em um total de seis pessoas, fora a minha família, que tenho me comunicado durante essa pandemia. Gostaria de saber se isso é muito ou pouco. De verdade, não sei o que pensar desse número. A base do problema vem do fato que, mesmo na vida pré-Covid, já tinha uma grande dificuldade de confiar em pessoas e saber como devo agir perto delas. O fato que mal saio de casa faz mais de um ano agravou isso assustadoramente.

Eu própria não estou conseguindo me reconhecer. Tudo está me parecendo no mesmo nível de dificuldade que imagino que seria um trabalho de parto. Estou exausta e é tudo impossível. E vejo os outros continuando a vida, estudando e mantendo contato com os outros, e apenas não consigo. Por que é que não consigo? O que tem de errado comigo? Por que sou tão quebrada? E, mais importante: como é que vou conseguir voltar a viver com seres humanos depois disso?

Sou difícil, sei que sou. Sou chata, mesmo fingindo que não. Me acho irritante. Nem eu consigo me aguentar por muito tempo. Minha cabeça é como aquelas velas de flor que você acende e elas não param de tocar uma música até você pegar um martelo e destruí-la em milhares de pedacinhos. A diferença é que não consigo destruir o meu cérebro em milhares de pedacinhos. Então penso, penso, penso. Aliás, estou agora pensando sobre o fato que só estou escrevendo sobre mim. Quem aqui vai querer perder o tempo deles lendo isso? E por que estou me preocupando agora sobre quem vai querer ou não ler? Bom, dane-se. Merda. Não tenho outro assunto agora. Estou presa comigo mesma.

Minha terapeuta diz que eu penso demais. Meu pai diz que 70% das coisas ruins que passam pela minha cabeça são coisas que criei. Eu crio muito. Crio toda hora — sempre fui assim. E não são só coisas ruins!

Tenho essa coisa de criar mundos imaginários na minha cabeça. Quando era pequena, era só para cair no sono. Hoje em dia, é qualquer momento em que a minha realidade fica desesperadora demais. O que tem nessas histórias imaginárias para serem tão viciantes? Deve existir algum conforto no fato que elas são provavelmente impossíveis de acontecer na vida real. Tá entendendo? Ou não? Acho que talvez não esteja mais fazendo sentido.

Melhor parar de falar, né? Nunca sei quando parar. O que nos leva ao problema inicial. Não sei como agir em público. Nem ao vivo, nem online. Odeio redes sociais. Meu pai diz que puxei algo dele e da minha mãe: me sinto inadequada. Não importa onde estou, sempre me acho errada. Não devia estar lá, ninguém vai me entender, ninguém quer me entender. And all that jazz. Isso faz com que eu me isole, que às vezes levo ao extremo. Já aconteceu de passar seis meses sem ver as minhas melhores amigas e sem respondê-las. E isso foi antes da pandemia.

É errado. Sei que é. Odeio fazer isso, não consigo controlar. Alguma coisa na minha cabeça diz que ninguém liga se eu parar de falar com elas. Me acho pequena demais, quase como se não fosse um ser humano completo. Não sei explicar. É como se não fosse merecedora da atenção dos outros porque não existo o bastante, sabe? Quando falei isso para a minha psiquiatra e psicóloga, elas responderam exatamente a mesma coisa: que tenho uma vida interna muito rica. Hahaha. Vou parar aqui.

Espero que você tenha lido tudo isso sem pausas para respiração pois é assim que penso e me comunico. Sério, é um problema. Milhares de pessoas já me falaram que tenho que respirar mais. Em falar nisso, nem sei se vai ter alguém que vai perder o fôlego para chegar até o final desse texto. Se alguém conseguiu, me desculpa por ter te enlouquecido um pouquinho. Não posso falar que não foi a minha intenção — queria que você entendesse como funciona a rapidez da minha cabeça. Volte sempre. Ou não. Sei lá.

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