minha nova alma

Cecilia Young
3 min readMay 7, 2021

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Estive pensando muito no conceito da alma como algo que transcende nossos corpos. Sei lá, deve ter acabado o meu estoque de bobagem durante a pandemia. Estou entrando no estado de pensamentos filosóficos.

Minha mãe foi naquelas astrólogas/mulheres-que-de-alguma-maneira-sabem-de-todos-os-segredos-do-universo anos atrás. Segundo ela, a minha alma é nova. Ou seja, essa é minha primeira experiência no planeta Terra. Eu ODEIO isso. É muita sacanagem. Para que é que esse corpo foi o escolhido para ser o debutante dessa alma? Quero me desculpar por tudo que ela já teve que passar. E isso não é uma reclamação, só estou dizendo que, pessoalmente e mundialmente, essa vida tem sido bem foda.

Mesmo assim, consigo ver um lado útil de toda essa tragédia espiritual — posso começar a usar a minha nova alma como desculpa. Por exemplo: talvez esse seja o motivo de ter tanto medo de qualquer coisinha que me acontece. Não é trauma, é só a minha nova alma aprendendo que tudo é uma merda. Ela deve estar chocada.

Outras almas já passaram por guerras e outros eventos alucinantes e horripilantes. Elas estão pelo menos um pouco acostumadas com tragédias e coisas bizarras acontecendo. Minha nova alma é outra história. Ela, com certeza, não estava pronta para essa merda.

Sério, imagina que você é uma alminha e finalmente chegou a sua hora de experimentar esse negócio que todos chamam de “viver”. Você tá toda animada e desce saltitando para a terra. Aí, ao chegar, da de cara com um caos gigante de proporções nunca imaginadas. Não me parece uma situação muito agradável. Aliás, me parece uma situação que é o contrário de agradável. É horrível.

O que pode-se esperar da nova alma? Que ela se coloque na frente de todo mundo e compartilhe o que pensa com esperança que os outros se relacionem com o que ela está dizendo? Ótimo conceito, mas ela já está aterrorizada demais para fazer isso.

A nova alma não faz a mínima ideia de como se defender. A única coisa que ela tem são um monte de sonhos e ideias do que a vida pode ser. E se as pessoas ficarem com raiva dela? Ela não possue nenhuma experiência com esse conceito horrível do confronto humano. Ela não sabe que a vida segue mesmo quando não gostam dela. Em sua mente, ela poderia ser sugada de volta para o espaço e trocada por uma alma mais velha e experiente. É assustador não saber de nada.

De outro lado, podemos levar em conta que é a primeira vez que ela sente. A nova alma ama, odeia, chora, ri, dança e fala como se nunca tivesse feito isso antes. Se preocupa, cuida das pessoas quase de uma forma didática. Acho que ainda deve lembrar muito bem de seus manuais de “como viver”. A nova alma formou-se da escola de preparação da alma a pouquíssimo tempo, afinal.

A nova alma gosta de fazer as pessoas felizes e não sabe quando ou como desligar seu humor — seja ele bom ou ruim. Talvez o caos que ela encontrou não a tenha arruinado completamente.

A minha alma, às vezes, dói. Meu coração fica apertado e sinto como se não fosse aguentar. Sei que a minha nova alma está agoniada. O ato de aprender machuca mais do que inicialmente imaginamos. Não há nada mais estranho e desconfortável do que o desconhecido e, se essa alma está mesmo em sua primeira viagem na vida humana, tenho certeza que ela ainda terá que aguentar muita angústia.

Há uma certa solidão em toda essa ideia. A única arma do novato é a coragem de experimentar. Não existe nenhuma aterrorização fantasmagórica além de o que sua própria cabeça inventa. As memórias são apenas aquelas que você criará, e não o que as assombrações do seu passado infligiram sobre você. De qualquer forma, independente se aquela estranha bruxa-psíquica-desconhecida estava certa ou não, espero que minha alma desenvolva o máximo que puder neste corpo. Ela ainda está se adaptando e cometerá muitos erros até acertar, mas pelo menos está fazendo o seu melhor.

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Written by Cecilia Young

já não sei mais porque tô fazendo isso

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